segunda-feira, 13 de julho de 2009

A origem e o nascimento da Filosofia e sua herança para o mundo ocidental.

I – A origem da palavra Filosofia é grega e é composta por:
Philo: amizade, amor fraterno
Sophia: sabedoria
Atribui-se a Pitágoras a invenção da palavra, no sec. V a. C.. Significa amor e respeito pela sabedoria, desejo pelo saber, vontade de saber.
Com o tempo esse filosofia passou a designar não apenas amor à sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria: aquela que nasce do uso metódico da razão.

II – A origem da Filosofia
Alguns pensadores gregos, admirados com a realidade e insatisfeitos com as explicações dadas pela tradição e mitos, começaram a fazer perguntas e a buscar respostas. Esses pensadores perceberam que a verdade do mundo e do homem não era algo misterioso e secreto, que precisasse ser explicada apenas pelos deuses e mitos.
Os pensadores acreditaram que o mundo podia ser conhecido por meio do pensamento e da razão e que a verdade podia ser ensinada e aprendida.
A Filosofia é uma instituição cultural tipicamente grega, que surgiu em um dado momento histórico, a partir de determinadas condições históricas e tornou-se o modo de pensar do mundo ocidental, inicialmente na Europa e, com a colonização, expandiu-se para a América e o mundo.


III – Nascimento
A Filosofia nasce na Antiguidade, no final do sec. VII a.C, com Tales de Mileto, nas colônias gregas da Ásia menor, em uma cidade chamada Mileto.
Os pensadores perguntavam sobre o mundo questões como:
Por que tudo muda?
Por que se nasce e morre?
Por que tudo se multiplica?
Por que o dia vira noite?
O que é a água, o fogo? Como surgiu? De que é feito?
Por que semelhantes dão origem a semelhantes?
De onde vêm os seres? Para onde vão os seres?
Em um período anterior ao surgimento dos primeiros filósofos, todos esses temas eram explicados pela mitologia, lendas, tradições. Era um momento em que o homem estava fortemente ligado à terra, às arvores, aos rios, às montanhas, à natureza. Não se fazia distinção entre o real e o irreal. A explicação de toda realidade universal era baseada na imaginação, não existia a razão.
É preciso lembrar que o pensamento e as instituições humanas refletem as condições sociais, econômicas e históricas de uma sociedade em uma determinada época. Na Grécia daquele momento, as explicações sobre as origens do mundo e da natureza baseadas na mitologia já não satisfaziam.
A Filosofia surge então como a busca de uma explicação racional e ordenada do mundo ou da natureza: cosmologia.
Cosmo: ordem e organização do mundo
Logia: pensamento racional, conhecimento
Mas por que e como a Filosofia surgiu naquele momento e na Grécia?
O que tornou possível o surgimento da Filosofia na Grécia no final do sec. VII antes de Cristo? Quais as condições sociais, políticas, econômicas e históricas que permitiram o surgimento da Filosofia?

IV – As condições históricas que possibilitaram o surgimento da Filosofia na Grécia
1. As viagens marítimas levaram à desmitificação do mundo, revelaram que não existiam deuses, monstros, titãs. O homem começou a conhecer concretamente o mundo e não havia os personagens dos mitos nos lugares esperados.
2. Invenção do calendário: o tempo deixou de ser incompreensível e divino, passou a ter dias, anos, estações.
3. Invenção da moeda permitiu uma forma abstrata de troca. A troca não se realiza através de uma coisa concreta. Surge uma forma abstrata e genérica de troca.
4. Surgimento da vida urbana: predomínio do comércio e artesanato. Surge uma classe comerciante que, para se contrapor a aristocracia da época, vai apoiar as artes, as técnicas, o conhecimento e assim a Filosofia.
5. Invenção da escrita alfabética revela o crescimento da capacidade de abstração, juntamente com o calendário e a moeda. O alfabeto é racional e pode ser usado por todos.
6. Invenção da política: surge a lei como expressão da vontade coletiva humana e o direito de cada um se expressar racionalmente, surge a cidade (polis) como novo espaço público e surge a política, que valoriza o ser o humano e o pensamento. Antes o discurso era mítico, sagrado, misterioso, agora pelo o discurso é público, ensinado, transmitido, discutido.

Antes do surgimento da Filosofia, toda a realidade era explicada através dos mitos. Mito é a narrativa da origem das coisas a partir de lutas e alianças entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Os filósofos foram reformulando e racionalizando as narrativas míticas e transformando as explicações do mundo em algo novo.
Não houve uma ruptura brusca nessa passagem do saber mítico ao pensamento racional. Em relação aos conhecimentos, os gregos transformaram em ciência o que era prática para uso na vida: as curas viraram a medicina. Criaram a organização social e política que conhecemos hoje, ou seja, as sociedades até então desconheciam a separação entre poder publico, privado e religioso. Foram os gregos que fizeram essa separação através da organização de leis e instituições como forma de poder e governo. Criaram a idéia de justiça e lei, características da organização política atual. Criaram a idéia de que o pensamento segue regras, normas e leis universais, ou seja, que o pensamento pode ser racional.

V– Períodos da Filosofia grega
O apogeu da filosofia grega acontece durante o auge da cultura e da sociedade gregas, durante a Grécia clássica. O marco foi o filósofo Sócrates.
1. Período pré-socrático ou cosmológico, do final do sec. VII ao final do século V antes de Cristo
É o nascimento da Filosofia, momento em que se investiga o mundo e as transformações da natureza.
Os principais filósofos foram Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Pitágoras de Samos, Heráclito de Éfeso, Parmênides de Eléia, e Zenão de Eléia, que fizeram parte de várias escolas.
É denominado período Cosmológico, pois buscava uma visão ordenada do mundo, a explicação racional e sistemática sobre origem, ordem e transformação da natureza e seres humanos. Investigava o princípio universal, imutável e eterno que gerou todas as coisas e seres: de onde tudo vem e para onde tudo retorna.
Esses filósofos acreditavam que todos os seres e coisas estão em movimento e transformação permanente: dia–noite, claro-escuro, quente-frio, seco-úmido, novo-velho, pequeno-grande. E perguntavam:
Por que tudo muda?
Por que se nasce e morre?
Por que tudo se multiplica?
Por que o dia vira noite?
O que é a água, o fogo? Como surgiu? De que é feito?

2. Período socrático – final do século V e todo século IV antes de Cristo, em Atenas.
A Filosofia passa a investigar as questões humanas, deixando de se preocupar apenas com as questões da natureza e suas transformações.
É a época do surgimento das cidades, do comércio, das artes militares. É o momento em que o cidadão começa a exercer a cidadania e precisa opinar, discutir, falar, persuadir, participar das assembléias. Esse período se caracteriza pelo interesse no próprio homem e nas relações do homem com a sociedade.
Essa nova fase foi marcada inicialmente pelos sofistas. Os sofistas diziam que os filósofos cosmologistas estavam errados. Os sofistas eram professores viajantes e ensinavam a arte da oratória, a arte da persuasão. Sofista significa sábio, entretanto ganhou o sentido de impostor. Eles eram considerados professores que vendiam ensinamentos práticos da filosofia e úteis para o sucesso nos negócios. Os sofistas foram criticados por Platão, que os considerava manipuladores de raciocínios.
Nesse contexto histórico da Grécia, surge Sócrates, considerado o patrono da Filosofia. Ele discordava dos antigos poetas (mitologia), dos antigos filósofos (cosmologia) e dos sofistas (oradores).
Sócrates nasceu em Atenas e é considerado um marco divisório na história da filosofia grega, pois ele desejava conhecer o homem e sua essência. Fazia perguntas como:
O que é o bem?
O que é a virtude?
O que é a justiça?
O que é a essência do homem?
Recomendava “conhece-te a ti mesmo”.
Sócrates não deixou registros de seus conhecimentos e o que se sabe dele e o seu pensamento vêm dos textos de seus discípulos e adversários, sendo o principal de seus discípulos Platão.
Sócrates desenvolveu o saber filosófico em praças conversando e mostrando que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Procurava um fundamento para as interrogações humanas. Para ele, o homem é sua alma, a alma é o desejo da razão, e isso distingue o ser humano de todos os outros seres da natureza. Ele dialogava com ricos e pobres, cidadãos ou escravos, importando-se apenas com as características internas de cada pessoa. Estava interessado na prática da virtude e na busca da verdade, contrariando os valores dogmáticos da sociedade ateniense. Então, foi considerado uma ameaça à sociedade e condenado a beber cicuta (veneno). Ele morreu coerente com os seus valores morais.
Platão foi responsável pelos registros dos ensinamentos Sócrates. A maior parte do pensamento de Platão foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, escritos por ele mesmo, Platão. Nasceu em Atenas e era de família nobre. Após longas viagens, fundou sua própria escola – a Academia, nos jardins construídos por
Acadamus, seu amigo. Era uma espécie de universidade de ensino do mundo ocidental. Para Platão, existia um mundo sensível – da aparência, das opiniões, da ilusão, imperfeito, incompleto e o mundo das idéias – eterno, essencial, belo, pleno, perfeito. Para se alcançar o mundo das idéias, é preciso o conhecimento racional e filosófico
Características do período socrático:
A filosofia se volta para as questões humanas: ações, comportamento, crença e valor
O homem como ser racional capaz de conhecer-se a si mesmo, capaz de refletir
Estabelece procedimentos que nos levam a verdade
Define as virtudes morais e virtudes políticas, as idéias e práticas que norteiam o comportamento dos seres humanos
Busca encontrar a essência dessas virtudes e valores: justiça, coragem, amizade, piedade, amor.
A opinião, as percepções e imagens sensoriais são consideradas falsas, mentirosas, contraditórias para se conseguir a verdade.

3. Período sistemático do final do século IV ao final do século II antes de Cristo
Nesse período, a Filosofia considera que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico.
Seu principal pensador foi Aristóteles, considerado um dos mais importantes filósofos gregos da antiguidade, o grande pensador de todo Ocidente ainda hoje. Ele falou sobre o homem, a alma, classificou animais e plantas, criou o método, discutiu sobre política, leis e comportamentos.
Aristóteles nasceu em 384 a.C., em Estagira, uma colônia grega. Era filho de Nicômaco, médico do rei da Macedônia. Estudou 20 anos na academia de Platão, onde foi professor, tornando-se mais tarde professor de Alexandre da Macedônia.
Aristóteles desenvolveu a lógica para servir de ferramenta do raciocínio e dedicou anos de seus estudos para classificar seres da natureza. Ao mesmo tempo, dedicava-se ao estudo do espírito, do universo interior e exterior do ser humano, incluindo política e sociedade. Desenvolveu o conceito essencial que diferencia o homem de todos os seres no mundo: a capacidade de buscar sempre fazer melhor, de ser feliz – a ética.

4. Período helenístico ou greco-romano, do final do sec. III antes de Cristo até o sec. VI depois de Cristo
Esse momento foi marcado pela expansão militar do Império Macedônico e se caracterizou pela difusão da civilização grega clássica.
O pensamento filosófico continuou fundamentado pelas escolas de Platão e Aristóteles. No entanto, o cidadão deixa de influir na vida política e a reflexão política é abandonada. A principal preocupação desse período é a intimidade do homem: sua vida interior, suas regras de conduta, sua paz interior. Surgem as escolas filosóficas: estoicismo, epicurismo e pirronismo e cinismo.

VI– A herança da Filosofia grega para o Ocidente
A Filosofia grega possui características, apresenta formas de pensar, estabelece concepções diferentes das de outros povos e culturas. Os gregos instituíram bases e princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte. Essas bases e princípios passaram a influenciar decisivamente o pensamento e as instituições da Europa ocidental e se expandiram para a América e o mundo.
Cabe ressaltar algumas contribuições:
A idéia de que a natureza obedece a leis e princípios necessários e universais, isto é, são os mesmos princípios em todas as partes e em todos os tempos. Exemplo: quando o filosofo inglês Issac Newton estabeleceu a lei da gravitação dos corpos serviu para todos os corpos da natureza ou seja nenhum corpo escapa dessa lei, ela é universal, isto é, válida para todos o corpos em todos os lugares e tempos.
A idéia de que as leis da natureza podem ser plenamente conhecidas pelo nosso pensamento. As leis da natureza não são conhecimentos misteriosos e secretos que precisam ser revelados por deuses. Mas podem ser alcançados pelo pensamento humano.
A idéia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, normas, regras e normas universais e que podemos distinguir o verdadeiro do falso. O nosso pensamento é lógico e segue leis lógicas de funcionamento.
A idéia de que as práticas humanas, isto é, a ação moral, a políticas, as técnicas e as artes dependem da vontade livre, da discussão, da nossa escolha emocional ou racional. As nossas ações dependem de nossas preferências de acordo com certos padrões que foram estabelecidos pelos próprios seres humanos e não por forças misteriosas. Então a ação humana pode ser conhecida.
A idéia de que os acontecimentos naturais e humanos podem obedecer a leis naturais ou da natureza humana, mas também podem ser acidentais quando dependem das escolhas dos homens. Essa idéia nos permite evitar o fatalismo – de que estamos sujeitos as forças da natureza – e evitar a ilusão de que tudo depende de nos.
A idéia de que os seres humanos aspiram ao conhecimento, à felicidade, à justiça, isto é, que os seres humanos não vivem nem agem cegamente, mais criam valores pelos quais dão sentido às suas vidas e às suas ações.

VII – Conclusão
A filosofia surge quando a explicação da realidade universal dada pelos mitos já não satisfaz a alguns pensadores gregos. Estes começam a fazer perguntas e buscar respostas, mostrando que o mundo e os seres humanos podem ser conhecidos pela razão humana.
A verdade do mundo e dos homens passa a não ser algo secreto e misterioso, ao contrário, torna-se algo que podia ser conhecido por todos através do pensamento, da sabedoria, do uso metódico da razão.

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